Se há algo que aprendi acompanhando executivos, equipes e organizações ao longo de décadas é que o final de ano, no Brasil, não é uma simples troca de calendário. É um fenômeno econômico, psicológico e cultural. A forma como o país funciona nesse período lembra o movimento do mar: algumas ondas chegam fortes e impulsionam o negócio; outras recuam, revelando um chão mais calmo — às vezes até parado demais. Esse comportamento atinge empresas de formas muito diferentes. E entender essa dinâmica, para mim, sempre foi fundamental para a saúde emocional dos times e para decisões estratégicas mais inteligentes.

Setores que aceleram: quando o final de ano vira alta temporada
1. Varejo e e-commerce: o combo Black Friday + Natal
No varejo, novembro e dezembro valem quase como um trimestre inteiro. Converso com líderes que descrevem esse período como “corrida de 100 metros com fôlego de maratonista”.
As demandas aumentam, o consumo impulsionado pelo 13º salário ganha força, e o varejo físico e digital vive seu momento mais intenso do ano.
Para as equipes, esse é um período de:
picos de produtividade,
pressão por metas agressivas,
jornadas ampliadas,
necessidade de respostas rápidas.
É o tipo de fase em que inteligência emocional — tão discutida por Daniel Goleman — deixa de ser teoria e vira ferramenta de sobrevivência diária. Nesse momento brilha o mais preparado por treinamentos e a vivência nos períodos anteriores.

2. Alimentação, supermercados e atacarejos
Festas, confraternizações, encontros familiares — o brasileiro coloca afeto na mesa. E isso aumenta consideravelmente a demanda por alimentos, bebidas e ingredientes especiais.
As equipes sofrem com imprevistos, reposição acelerada e uma sensação constante de urgência. Sem preparo de protocolos a onda passa e os lucros também.
3. Turismo, hotelaria e setor aéreo
Com o verão e as férias escolares, esses setores explodem.
Os colaboradores, especialmente da linha de frente, enfrentam volume alto de clientes, situações emocionalmente desgastantes e necessidade de manter cordialidade mesmo sob exaustão.
É aqui que vejo muitas vezes o risco de burnout crescer, caso a gestão não esteja preparada com políticas de descanso, processo e redistribuição de carga. Pois, o pensamento econômico equivocado acredita que, apenas aumentando o número de colabores, irá suprir a demanda excepcional.
O que ocorre na verdade é que, ao colocar indivíduos sem o devido treinamento, acaba por comprometer toda equipe.

4. Logística e transportes
Este é o motor silencioso do final de ano. O e-commerce dispara, e com ele a demanda por entregas.
Motoristas, operadores de distribuição, equipes de armazém… todos entram em modo “máxima velocidade”.
O curioso é que, apesar do auge da demanda (mais recursos para todos), é também um período de altíssimo desgaste psicológico.
Setores que desaceleram: quando o país entra no modo ‘deixa para o ano que vem’
Se alguns setores surfam ondas gigantes, outros veem a maré recuar de forma abrupta.
1. Consultorias, educação corporativa e treinamentos
Esse é talvez o caso mais clássico. Os orçamentos fecham, agendas travam, lideranças adiam decisões. O discurso muda de “vamos avançar” para “vamos olhar isso no próximo ciclo”.
Para profissionais que dependem de projetos contínuos, esse período pode gerar:
insegurança financeira,
sensação de pausa forçada,
queda na motivação.
E é aí que entra a importância da regulação emocional e da capacidade de planejamento estratégico individual.
2. Tecnologia corporativa e marketing institucional
Projetos estruturais são pausados porque exigem investimento e foco — duas coisas escassas no final de ano. Soluções B2B, plataformas e contratos longos também sofrem.
3. Setores administrativos e decisões estratégicas
A tomada de decisão é empurrada para janeiro. É quase um “pacto cultural” brasileiro: o famoso “agora já estamos no fim do ano”.
O impacto direto no mercado de trabalho
O efeito da sazonalidade na contratação
Nos setores aquecidos, cresce a demanda por mão de obra temporária despreparada (gente entrando no trem bala sem bagagem).
Nos setores em retração, ocorre congelamento de vagas, espera por orçamento e reavaliação de times.
O fenômeno é semelhante ao conceito de homeostase na biologia: o sistema busca equilíbrio, mas os estímulos são muito diferentes em cada região do organismo.
A pressão psicológica muda de acordo com o setor
No auge da demanda, o grande risco é o esgotamento físico e emocional. Na retração, o risco é ansiedade, incerteza e medo do futuro.
E ambos são perigosos. Ambos precisam ser geridos com cuidado.
O comportamento das equipes também se transforma
Gente mais cansada.
Atenção mais dispersa.
Emoções à flor da pele.
Expectativa do descanso somada ao excesso de tarefas.
Sensação de “quase lá”, que mistura esperança e exaustão.
Lembro de Amy Edmondson quando fala de ambientes psicologicamente seguros. No final do ano, esse conceito ganha ainda mais importância. As pessoas precisam de espaço para expressar dúvidas, limites e cansaço — e líderes precisam saber ouvir.
A psicologia da virada: por que o final de ano pesa tanto emocionalmente
O final do ano toca em três camadas psicológicas importantes:
Avaliação interna: as pessoas fazem balanço do que deu certo e do que ficou pendente.
Pressão social: festas, compromissos, entregas, metas… tudo se acumula.
Expectativa de reinício: a sensação de que “no ano que vem tudo pode ser diferente”.
Essa mistura cria um terreno fértil para ansiedade e exaustão — mas também para criatividade, planejamento e redirecionamento de carreira.
O que líderes e empresas podem fazer para navegar esse período
Aqui entram algumas orientações práticas que costumo compartilhar com executivos e gestores:
1. Ajuste de metas e comunicação transparente
As equipes precisam saber o que é essencial e o que é desejável. Nessa época, clareza reduz ansiedade.
2. Revezamento inteligente
Picos de demanda pedem descanso programado. Quando a liderança permite pausas estratégicas, o rendimento aumenta.
3. Planejamento antecipado
Empresas que se preparam desde setembro sofrem menos em dezembro — simples assim.
4. Ambientes emocionalmente seguros
Criar espaço para conversas reais sobre limites faz diferença enorme.
5. Reconhecimento
Final de ano é terreno fértil para cansaço. Mas também para gratidão. E equipes reconhecidas trabalham melhor, com mais vínculo e mais propósito — como Peter Drucker já apontava quando falava sobre motivação e desempenho.
E para quem desacelera? O que fazer com a “maré baixa”?
Setores que entram em baixa estação podem usar esse período como um presente estratégico:
revisar processos,
planejar o ano,
ajustar posicionamento,
investir em capacitação interna,
reforçar cultura organizacional,
realizar diagnósticos profundos (que nunca cabem no ano corrido).
É o momento ideal para respirar, reorganizar e preparar terreno para crescer com mais qualidade no próximo ciclo.
O final de ano não é um vilão e nem tampouco é um herói. Na verdade está mais para um professor que nos ensina sobre ciclos, sobre limites, sobre timing de mercado. E, principalmente, sobre a importância de liderar pessoas considerando não apenas performance, mas também emoções, contexto, cultura e ritmo humano. Se os líderes e equipes entenderem essa maré — e souberem navegar nela com inteligência emocional, estratégia e humanidade — o final de ano se transforma de caos em oportunidade.
Referências
DRUCKER, Peter. Management: Tasks, Responsibilities, Practices. New York: HarperBusiness, 1993.
EDMONDSON, Amy. The Fearless Organization: Creating Psychological Safety in the Workplace for Learning, Innovation, and Growth. Hoboken: Wiley, 2019.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.
MASLOW, Abraham. Motivação e Personalidade. 3. ed. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 2000.
MCKINSEY & Company. Future of Work Insights. Disponível em: https://www.mckinsey.com/ (acesso em: nov/2025).
HARVARD BUSINESS REVIEW. Year-End Organizational Behavior Trends. Disponível em: https://hbr.org/ (acesso em: nov/2025).
GALLUP. State of the Global Workplace Report. Disponível em: https://www.gallup.com/ (acesso em: nov/2025).
Nota de Transparência:
Foram utilizadas ferramentas de inteligência artificial para a pesquisa de artigos e criação das imagens ilustrativas.
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